Do homicídio ao omnicídio
Mario Bunge
Por que condenar o assassinato no varejo e o justificar no atacado? Uma possível explicação dessa duplicidade moral é o tribalismo. Os membros de uma tribo devem evitar a violência dentro da tribo, de modo a assegurar a coesão interna. Ao contrário, as tribos estrangeiras são vistas como ameaças ou como inferiores e, em ambos os casos, como indignas de continuarem a existir. Em outros casos, a causa da violência massiva (ocupação, guerra, cruzada etc.) é a avidez por terras ou mercados, ou a competição pelo poder econômico, político ou cultural (em particular o ideológico). Estas e outras explicações podem estar corretas, mas não são justificativas morais.
Quem condena o homicídio simples deve condenar, com muito mais razão, o assassinato em massa. Qualquer que seja a escala, o assassinato é objetivamente mau, pois todos nós temos direito à vida (princípio moral) e por que, em larga escala, é mau negócio (princípio prático). De fato, a violência dificulta a convivência de grupos distintos, sobretudo no mundo de hoje, no qual todos os grupos sociais do mundo andam lado a lado. Além disso, abre lugar para a vingança, a qual debilita todas as partes envolvidas. (Veja-se a história da Máfia.)
1. Assassinato de uma pessoa.
2. Matança, ou assassinato de um grupo social relativamente pouco numeroso.
3. Guerra, ou tentativa de assassinato indiscriminado de um grande número de pessoas.
4. Genocídio, ou extermínio de um grupo social numeroso e bem definido (raça, classe social ou partido político).
5. Omnicídio, ou assassinato da humanidade (ou mesmo de todos os seres vivos).
Fonte (em espanhol): Bunge, M. 1989. Mente y sociedad. Madri, Alianza.